🏕️ Jogos Nômades Mundiais (World Nomad Games)
🌏 Um evento que une a Ásia Central
Os Jogos Mundiais Nômades têm enorme importância para os países da Ásia Central — especialmente Quirguistão, Cazaquistão, Uzbequistão, Turcomenistão e Tajiquistão 🇰🇬🇰🇿🇺🇿🇹🇲🇹🇯. O evento celebra e preserva as tradições, esportes e culturas ancestrais desses povos, fortalecendo o orgulho nacional e promovendo o intercâmbio entre diferentes etnias da região. Além disso, os Jogos ajudam a divulgar internacionalmente a riqueza cultural da Ásia Central, aproximando também países vizinhos como Azerbaijão e Turquia.
💡 Ideia e Surgimento do Evento
O século XX foi marcado por grandes mudanças e conflitos, mas também pelo surgimento de movimentos pacifistas e pela valorização do esporte como instrumento de aproximação entre povos. Inspirado pelo espírito olímpico de Pierre de Coubertin 🕊️🏅, que via o esporte como caminho para a paz, o mundo buscou novas formas de promover o entendimento internacional.
Com a globalização 🌍, barreiras culturais começaram a se estreitar, levando à padronização de valores e costumes. Nesse contexto, surgiu a preocupação em preservar a diversidade cultural e humanizar o esporte. Em 2012, o presidente do Quirguistão, Almazbek Atambaev, propôs a criação dos Jogos Nômades Mundiais, com a missão de reviver e proteger a cultura, identidade e modos de vida dos povos nômades 🏞️.
🐎 Cultura Nômade
A cultura nômade conecta milhões de pessoas, revelando uma riqueza de tradições, línguas e formas de viver em harmonia com a natureza 🌱. Os nômades, ao longo da história, foram responsáveis por trocas culturais e pela disseminação de saberes, adaptando-se aos mais diversos ambientes sem alterar drasticamente o cenário natural 🌄.
🎉 Primeira Edição
Contrariando estereótipos, os nômades sempre valorizaram jogos físicos e intelectuais 🤼♂️🧠, que sobreviveram até hoje. Em 9 de setembro de 2014, às margens do Lago Issyk Kul, no Quirguistão, foi realizada a primeira edição dos Jogos Nômades Mundiais, reunindo atletas de 19 países em competições de dez esportes tradicionais 🌏. O evento também contou com um festival etnográfico, mostrando costumes, rituais e espetáculos equestres em uma vila de yurts 🛖🎶.
🌟 Inclusão de mais Esportes e Povos
O sucesso da primeira edição motivou a realização dos Jogos Nômades Mundiais em 2016, ampliando o número de esportes para 23, incluindo artes marciais 🥋, corridas de cavalos 🐎, arco e flecha 🏹, falcoaria 🦅 e caça com taigans 🐕. Uma cidade cenográfica foi construída nas montanhas, recriando o cotidiano nômade e promovendo oficinas de artesanato e festivais folclóricos 🎨🎭.
Os Jogos Nômades Mundiais unem competição, natureza e valores humanos, celebrando a diversidade e o legado dos povos nômades diante dos desafios da globalização 🌐.
🏅 Esportes Interessantes
Abaixo uma pequena lista de somente alguns dos esportes disputados. Estão destacados aqui por serem muito diferentes e divertidos:
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🐐 Kok-boru (ou Kokpar) – “Buzkashi” da Ásia Central
Um espetacular jogo a cavalo em que equipes disputam uma carcaça de cabra (hoje, muitas vezes um boneco) para arremessá-la em um gol adversário, numa mistura de polo, rugby e wrestling montado. Um dos esportes mais icônicos do evento. -
🐴 Er Enish (Luta Montada)
Duas pessoas a cavalo se enfrentam, tentando derrubar o oponente do animal. É intenso, físico e exige equilíbrio extremo e sincronia com o cavalo. -
🦅 Salburun (Caça Nômade com Aves de Rapina + Arco + cães Taigan)
Disputa multidisciplinar que mistura falcoaria, tiro com arco montado e caça com cães Taigan — uma celebração viva da relação entre humanos, animais e tradição. -
🧠 Jogo Intelectual: Togyzkumalak (Toguz Korgool)
Um jogo de estratégia estilo mancala, onde jogadores movimentam “sementes” entre buracos no tabuleiro, exigindo visão tática e concentração. -
🦴 Asyk Atu
Competição que utiliza “asyks” (ossos de ovelha transformados em peças de jogo). Jogadores lançam usando uma fivela ou chicote visando derrubar a peça do oponente — tradicional, divertido e curioso. -
💪 Mas-Wrestling
Teste de força em que dois adversários se sentam frente a frente, com os pés apoiados num bloco e seguram um bastão, tentando puxar o outro ou o bastão. Rápido, dramático e visualmente impressionante. -
🏇 Cirit
Jogo turco a cavalo semelhante à justa medieval. Funcionam equipes que lançam dardos (javelins) enquanto galopam, marcando pontos por acertos no oponente ou no cavalo. -
🏇 At Chabysh (Corrida de Resistência a Cavalo)
Corrida de longa distância, testando a sinergia e resistência do cavalo e cavaleiro por terrenos extensos — refletindo o estilo de vida nômade. -
🏋️♂️ Strong Nomad (Desafios de Força Tradicionais)
Competição com uma série de provas de força: carregar pedra de 100 kg, agachar com peso, carregar tronco pesado, lançar javali, puxar carroça de 200 kg… um espetáculo de vigor e tradição. -
🦴 Ordo (Jogo de Tabuleiro dos Ossinhos de Carneiro)
Trata-se de jogo estratégico com ossos (ou ossinhos vertebrais) projetados para derrubar peças dispostas no centro de um círculo — simples, antigo e intrigante.
🇧🇷 Participação Brasileira
Keila na cerimônia de abertura
A experiência brasileira nos Jogos Mundiais Nômades em 2016 também contou com a presença de Keila Calaça, atleta de wrestling olímpico. Ela foi a porta-bandeira da delegação do Brasil na abertura do evento e também participou das competições de Alysh (belt wrestling), uma das modalidades tradicionais disputadas no Quirguistão.
Entrevista com Keila Calaça
Keila ao lado de mulheres com trajes típicos
Quais as impressões que você teve sobre o evento?
Keila Calaça: “Foi uma experiência única, digo que foi a viagem mais longe em distância e da nossa cultura. Eu não conseguia pedir água sem a ajuda dos voluntários que falavam inglês, porque a língua deles é o quirguiz e nem gesticulando entendiam, nessa hora me senti um ET (risos).
Delegação brasileira
Keila Calaça: É uma competição que vai muito além do esporte, é um evento cultural. Pude ter contato com várias etnias, de vários povos, sendo esses de cultura nômade. Indescritível o que vivenciei e a riqueza cultural dos Jogos Nômades. Me senti num filme épico de guerreiros medievais, inclusive o padrinho do evento quando fui era o ator Steven Seagal.
Steven Seagal, marcando presença no evento
Keila Calaça: A comida foi um desafio, porque é à base de carneiro e eu tive muita dificuldade, mas os pães e bolachas caseiras são maravilhosos! Me alimentava disso e levei meus suplementos, principalmente proteínas. Mesmo assim desci de categoria, porque baixei muito de peso na semana, somando-se a isso o frio e a altitude em Cholpan-Ata.”
Houve um esforço grande para você se adaptar e competir no Alysh (belt wrestling)?
Keila Calaça: “Eu sou atleta de wrestling olímpico, e no Pan-Americano da modalidade olímpica participamos, em paralelo, da seletiva para o Mundial de Belt Wrestling (lutas tradicionais). Nunca competi judô, o que teria me ajudado nas pegadas na faixa (cinto), portanto tive dificuldade nessa adaptação às particularidades do estilo tradicional.
Keila com colegas de treino
No Quirguistão, me juntei nos treinos com a seleção russa durante uma semana de preparação. Eles me ajudaram muito e foram muito receptivos comigo e com os participantes dos países da América Latina. Éramos dois brasileiros (eu e o Gabriel Rusca Oliveira), dois argentinos, uma colombiana e um guatemalteco.”
Keila Calaça e Gabriel Rusca Oliveira, medalhista de bronze no Alysh
Como você avaliou sua participação?
Keila Calaça: “Gostei muito de participar, meus resultados foram bons, já que eu não estava familiarizada com as regras e a utilização da faixa nas pegadas (por isso belt wrestling). Fiquei em 7º e 9º lugar.
Existem dois estilos: em um pode-se utilizar técnicas de pernas, e no outro não — esse último se assemelha ao greco-romano. Nas lutas tradicionais, nós mulheres podemos participar dos dois, diferente da olímpica que só disputamos o estilo livre.”
📺 Veja estas referências:
Registro da abertura dos jogos em 2018 no Quirguistão pelo canal brasileiro Monday Feelings
Jogos Nômades Mundiais (em inglês)
Matéria do Astana Times sobre o evento em 2024, em Astana, no Cazaquistão
Uma das lutas do medalhista brasileiro no Alysh, Gabriel Rusca Oliveira
Fontes: